Uma das maiores fortunas de Portugal vai fechar Kinda e avançar com despedimento coletivo

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O grupo Nuvi investiu mais de 20 milhões de euros na abertura, em 2018, da primeira de quatro lojas que detém em Portugal, tendo congelado o projeto de 25 milhões para os terrenos da antiga fábrica dos Cabos d’Ávila, na Amadora, ativo imobiliário que mantém em carteira.

Luís Vicente, um dos homens mais ricos de Portugal, começou por ser uma referência nacional da pera rocha, nos anos 60 do século passado, em Torres Vedras, tendo mais tarde convertido a Luís Vicente SA num gigante na produção e comercialização de fruta e legumes.

No início dos anos 90 partiu à conquista de Angola, onde criou um grupo diversificado que está presente em várias áreas de negócio – entre outros, detém a produtora de refrigerantes e sumos Refriango, e uma rede de retalho alimentar de centenas de lojas através de insígnias como Mega – Cash & Carry, Bem Me Quer e Bem Perto, empregando mais de cinco mil pessoas.

Até que, em 2013, o grupo Nuvi, nome do universo empresarial de Luís Vicente, entrou no negócio da comercialização de mobiliário e decoração, abrindo lojas com a marca Kinda Home em Angola, onde detém quatro espaços.

Curiosidade: “Kinda” é o cesto que as mulheres angolanas carregam à cabeça.

Consolidada a presença da marca no mercado angolano, Luís Vicente decidiu “exportar” a Kinda Home para Portugal, tendo em novembro de 2018 inaugurado a sua primeira loja no país – no Porto, onde edificou de raiz um prédio, após a demolição da carcaça de betão da falida Moviflor, na Rotunda AEP, num investimento superior a 20 milhões de euros e que, na altura, criou, 150 postos de trabalho.

Aquando da inauguração da portuense Kinda, o grupo sinalizou para o final do ano seguinte a abertura de uma mega loja nos terrenos da antiga fábrica dos Cabos d’Ávila, na Amadora, num investimento orçado em 25 milhões de euros – um projeto que sofreu múltiplas vicissitudes e que se mantém congelado, até hoje, no seio do grupo Nuvi, onde está pendurado este ativo imobiliário.

Em vez disso, em 2019 abria uma “loja boutique” Kinda Home no Oeiras Parque, num espaço de cerca de 550 metros quadrados e onde investiu mais de 500 mil euros, e na primavera de 2021 chegou a Lisboa, tendo tomado conta da antiga Garagem Glória, na Avenida António Augusto Aguiar, com uma área e investimento semelhantes à de Oeiras.

Entretanto, deixou cair o “Home” no nome e o colorido no logótipo, optando pela sobriedade do preto, tendo em março do ano passado aberto uma loja no edifício Diana Park, na Rua Maria Ulrich, zona lisboeta das Amoreiras, numa área de mil metros quadrados e que implicou também um investimento da ordem dos 500 mil euros. Acresce uma loja aberta em Madrid.

John Leitão abandona liderança quatro anos depois, Dinis Santos é o novo CEO

Em outubro de 2019, um ano depois de ter chegado a Portugal, o grupo Nuvi concluía que o seu negócio de mobiliário e decoração em território nacional não estava a correr bem, tendo contratado John Leitão para liderar a Kinda.

Filho de pai português e mãe inglesa, John Leitão nasceu em Londres em fevereiro de 1981, cresceu em Portugal e formou-se em Engenharia Informática pela Universidade Nova de Lisboa, mas trocou os computadores por uma carreira na consultoria.

Tirou um MBA na Harvard Business School e iniciou a sua vida profissional na Boston Consulting Group (BCG), ao serviço do qual trabalhou em diversas geografias e indústrias, sobretudo no retalho e no marketing.

Chegou a estar um ano no escritório da BCG em Sidney, na Austrália, tendo saído da consultoria em maio de 2013 para o cargo de CEO da marca de alta joalharia e relojoaria suíça de luxo Grisogono, onde se manteve mais de cinco anos.

Voltou à BCG em 2019, tendo em novembro desse ano assumido o cargo de CEO da Kinda, de onde saiu há pouco mais de dois meses.

Agora já sem Leitão, a empresa comunicou aos seus trabalhadores que a Kinda vai fechar e avançar com um despedimento coletivo.

Contactado pelo Negócios, o novo CEO da Kinda, Dinis Santos, afirmou que “não está ainda definido como vai ser executado esse fecho e o despedimento coletivo”.

Última nota: em março passado, a Jerónimo Martins e o grupo Nuvi notificaram a Autoridade da Concorrência da criação de uma “joint-venture” para a produção de mandarina, nectarina, pêssego e ameixa.

“A nova empresa juntará duas das maiores fortunas de Portugal: a família Soares dos Santos e Luís Vicente”, escrevia, na altura, o Negócios.

Jornal de Negócios, 01/03/2024