Negócios por nacionalidade desenham mapa do mundo em Luanda

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Vários países em Angola estão representados, não só pelos seus cidadãos, mas também pelos negócios que desenvolvem. O modelo adoptado e a gestão são sempre definidos pelos proprietários. Mas há uma matriz comum. Cada nacionalidade é forte num ramo e concentra-se num local.

Tudo começa nos seus países de origem até encontrarem em Angola uma oportunidade de negócio para virem. É o sucesso dos pioneiros que atrai os seus conterrâneos e que acaba por resultar na disseminação de negócios próprios por país de origem dos seus proprietários. Por isso, alguns negócios têm nacionalidade e, em Luanda, têm endereço conhecido. Nesta edição, o Expansão faz um roteiro destes negócios, por ramo e localização.

O comércio de peças de automóveis, sobretudo motores, é um negócio onde predominam os cidadãos oriundos da Nigéria. Fixaram-se na rua Machado Saldanha, no Bairro Popular, município do Kilamba Kiaxi. Um comerciante que não aceitou ser identificado disse ao Expansão que vive em Angola há mais de cinco anos e veio a convite de um amigo, que é o seu sócio no negócio. Afirmou que é um negócio que já fazia no seu país de origem, mas em Angola tem obtido melhores resultados. Com o seu português muito influenciado pelo dialecto do seu país, o comerciante de variados tipos de motores contou que naquela rua são todos nigerianos “e alguns são mesmo família”.

Shaim, um dos vendedores de baterias, disse que está em Angola há mais de 10 anos e, por ele, muitos libaneses também são vendedores de baterias de carros, na rua do Kikagil, no Morro Bento, uma vez que este segmento do sector automóvel é um negócio exclusivo dos libaneses.

Já as cantinas dos “mamadou”, como são conhecidas em Angola, pertencem e são geridas por pessoas do Mali e da Guiné-Conacri. Estes comerciantes estão espalhados por todos os municípios. Porém, onde há maior concentração de cantinas é na famosa “Wall Street do Mártires”, na rua 15 do Mártires de Kifangondo, apesar de naquela zona de Luanda reinarem as “kinguilas”. Os principais intervenientes do comércio de troca de moeda são imigrantes da África Ocidental, maioritariamente malianos e senegaleses, assim como nigerianos e cidadãos da República Democrática do Congo (RDC).

Quando o assunto é tecnologia, os caminhos vão dar todos ao mercado dos congoleses, pois é lá que estão as “clínicas” de telemóveis e televisores. Os técnicos são oriundos da RDC que, naquela parcela do distrito do Rangel, dão nova vida a várias marcas de telemóveis. Uns dizem ter formação média e superior, outros foi a experiência que os tornou mestres.

A comercialização de bens alimentares frescos nos armazéns, nomeadamente a venda de frango e carne de outros animais, é um negócio dominado maioritariamente por indianos. Já os produtos alimentares secos são dos eritreus e libaneses.

Da Ásia também importamos negócios, cujos importadores são também os gestores. Apesar de estarem envolvidos em vários ramos de actividade, os chineses são conhecidos por actuarem no sector da construção civil, do comércio geral, no ramo da piscicultura e, mais recentemente, entraram no sector automóvel. Por outro lado, os vietnamitas são donos dos negócios de gráficas e fotocópias, conhecidas por “konicas”. Foram eles que impulsionaram no mercado nacional o negócio da impressão de fotografias e copiadoras. O facto de terem domínio da matéria-prima coloca-os numa posição dominante, que afasta os concorrentes.

Dos Estados-membros da CPLP, Portugal é um dos países que domina no sector da restauração e partilha os negócios da construção civil com os chineses e brasileiros. Há também uma grande presença de investidores brasileiros na restauração e comércio geral. Os cabo-verdianos estão ligados ao comércio e a sua zona de exploração é o bairro do Prenda.

Expansão , 30/09/2023