O género musical “Talaia Baxu”, típico da ilha do Fogo e que junta violino com cavaquinho, reco-reco e ritmo, vai ter o seu dia nacional em Cabo Verde a 01 de Fevereiro, conforme proposta aprovada hoje no Parlamento.
“‘Talaia Baxu’ constitui uma das maiores manifestações artísticas, culturais e musicais da ilha do Fogo, de Cabo Verde e da nossa imensa diáspora, sendo um dos aspectos que melhor nos particularizam e caracterizam enquanto foguenses”, lê-se na nota justificativa para a proposta de instituição do 1 de Fevereiro como dia nacional daquele género, por ser a data do nascimento da “consagrada” Adelina Gomes, popularmente conhecida por ‘Bina Manzinha’.
De acordo com o texto da proposta de projecto de lei do Grupo Parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD, maioria), aprovada ontem por 63 votos na sessão plenária em votação final global, a instituição do dia nacional da “Talaia Baxu” pretende reconhecer aquele género musical, artístico e cultural como “de referência” em Cabo Verde e para “criar as condições necessárias” para ser elevado a “património imaterial nacional”.
Contudo, antes da votação final, o Parlamento chumbou o pedido de alteração à proposta do MpD por parte do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), que pretendia que a data fosse assinalada antes a 24 de Junho, dia de São João, festividade típica local e central daquele género musical. O MpD recusou recuar alegando que a proposta foi elaborada com o apoio da população local e que não se quer confundir a data com a festividade do São João.
O texto original defende que a data pretende “homenagear os homens e as mulheres que emprestaram toda a sua classe, criando, cantando e compondo para salvaguardar todo esse riquíssimo legado histórico” e ao mesmo tempo “chamar a atenção da sociedade cabo-verdiana, particularmente dos jovens, para a necessidade de se continuar a compor, interpretar e valorizar a ‘Talaia Baxu’”.
Este género musical nasceu “nos contextos populares” do município dos Mosteiros, Fogo, nos finais do século XIX, e está presente “em toda a ilha, nos momentos de convívio e lazer, como uma manifestação espontânea”.
“Reza a história que, nas imediações das zonas altas dos Mosteiros, isto é, contíguas ao perímetro florestal de Monte Velha, na localidade de ‘Tchada Mariz’ ou Achada Maurício, viveu Armand Montrond [conde francês], e que tinha com ele um violino francês cujas afinidades sonoras e musicais com a ‘Talaia Baxu’ protagonizou um casamento tão perfeito, de tal sorte que perdura até aos dias de hoje. A introdução do violino, um instrumento clássico da valsa francesa, no género ‘Talaia Baxu’, veio enriquecer, sobremaneira, a melodia e a tonalidade existentes em cada verso expresso pelos músicos”, lê-se ainda na nota justificativa da proposta.
Acrescenta que “não há ‘Talaia Baxu’ sem violino, do mesmo modo que não há funaná sem gaita”, instrumentos que “são imprescindíveis na orquestração e ênfase que trazem a esses géneros musicais”.
No caso da “Talaia Baxu”, o violino ainda é acompanhado pela guitarra, cavaquinho e reco-reco, “numa simbiose perfeita entre a letra, muitas vezes improvisada, e a música”.
A partir dos anos de 1970, “é reconhecida como música típica da ilha do Fogo, despertando compositores e vozes de realce, divulgando e ultrapassando as barreiras e fronteiras nacionais para conquistar o mundo” e “consagra-se como a música ícone da cultura foguense, em particular, e cabo-verdiana, em geral”.
Na década de 1990, “Talaia Baxu” entra “de forma irreversível” nos circuitos da World Music Internacional com os “Mendes Brothers”, grupo constituído pelos irmãos Ramiro e João Mendes – que emigraram em 1978 do Fogo para os Estados Unidos – o qual recebeu vários elogios e prémios da crítica musical internacional.
29/07/2022