O “gap” entre a produção estimada no OGE 2023 e a real ronda os 91.781 barris/dia. Pela primeira vez nos últimos anos, o principal culpado da quebra de produção petrolífera não é o declínio natural da produção. Há cada vez mais paragens para manutenção nos “velhinhos” poços angolanos.
As paralisações da produção petrolífera registadas ao longo do ano roubaram 33,5 milhões de barris de petróleo à produção anual do país, de acordo com cálculos do Expansão com base nas projecções de produção inscritas no OGE 2023 e com as novas previsões em sede da Programação Macroeconómica Executiva (PME) feita em Setembro e que consta na proposta de OGE 2024.
Segundo o orçamento ainda em vigor, para 2023 estavam previstos a produção de 430.700.000 barris e agora na PME passou para 397.200.000, uma queda equivalente a 91.781 barris por dia.
Na base desta revisão da produção prevista para o ano de 2023 está essencialmente o impacto das manutenções programadas e não programadas, que acabou por ter um impacto significativo no OGE, já que cortou substancialmente as receitas fiscais petrolíferas. Só no I trimestre, segundo a proposta de OGE 2024, houve uma “quebra de 8% da produção petrolífera, incluindo a produção de gás, justificada pelas paragens programadas e não programadas emergenciais de manutenção de plataformas petrolíferas e resolução de avarias, algumas com tempo de demora acima do previsto, em diversos blocos petrolíferos, designadamente 0, 14, 15, 15/06, 17 e 18, condicionando o desempenho dos mesmos”.
Em termos práticos, o documento foi feito em Setembro quando faltavam 4 meses para terminar o ano e o Executivo já admitia que não havia condições para cumprir a meta de produção petrolífera anual mais uma vez, uma tendência que já não é de agora. É habitual nos últimos anos os números da produção real ficarem abaixo dos programados no OGE. Ainda assim há uma excepção, que foi 2022.
Assim, esse foi o primeiro ano em que o principal culpado da quebra da produção petrolífera não foi o declínio natural da produção que acontece por conta do envelhecimento dos poços petrolíferos. À medida que os poços envelhecem, vão produzindo mais água e areia do que petróleo, o que provoca ao longo do tempo a redução da capacidade máxima de produção nestes poços.
Outra consequência para o declínio da produção, que em 2012 andava perto de 2 milhões de barris de petróleo/dia, e que hoje é de 1.088.000 barris, é a maior frequência de manutenções aos campos devido à idade avançada dos mesmos e dos próprios equipamentos.
Abaixo de 1 milhão de barris em Março
Entre Janeiro e Junho, Angola produziu 193,8 milhões de barris, o que dá uma média diária de 1,07 milhões de barris, de acordo com cálculos do Expansão com base em dados do Banco Nacional de Angola (BNA). Trata-se de um valor de mais de 100 mil barris dia abaixo do que estava inscrito no OGE 2023.
E o pior mês foi Março, já que a produção esteve abaixo de um milhão de barris/dia, mais concretamente 969 mil, tratando-se do valor mais baixo dos últimos anos. Essa queda na produção deveu-se, sobretudo, a paragens nos blocos 14, 0 e 17.
Expansão , 15/11/2023