A decisão foi tomada na última reunião de CPM para atenuar os riscos cambiais e a redução das divisas no mercado. Mas estas obrigações não são a solução para contornar o desequilíbrio entre a oferta e procura de divisas, provocado pela escassez que resulta da inércia do Tesouro no mercado.
Com o pretexto de aliviar a pressão sobre a desvalorização do Kwanza que se tem registado nos últimos meses, o Banco Nacional de Angola (BNA) decidiu passar um “pano quente” sobre a oferta de recursos cambiais ao lançar para o mercado Obrigações do Tesouro Nacional da sua carteira em Moeda Estrangeira, no valor de 350 milhões USD, numa medida que os especialistas admitem que não servirá para tirar a pressão sobre o kwanza.
Essas obrigações só podem ser adquiridas em moeda nacional, por qualquer interessado junto da Bolsa de Valores Mobiliários de Angola (BODIVA), ou por intermédio dos bancos comerciais, de acordo com o site do Banco Central. Esta emissão foi decidida na 111.ª reunião do Comité de Política Monetária e pretende ser um instrumento financeiro de mitigação do risco cambial. Porém, para o economista Wilson Chimoco, esta medida não vai tirar pressão sobre o câmbio pois é um instrumento de cobertura cambial e não vai revolver o problema de mercado que é de desequilíbrio entre a oferta e a procura de divisas. A oferta tem sido condicionada pelo facto de o Tesouro estar a ser menos interventivo nos últimos tempos e por a taxa de câmbio estar há mais de 12 meses abaixo da taxa de equilíbrio, disse.
As obrigações disponibilizadas para venda têm uma taxa de juro (yield) de 5,90% ao ano, com uma maturidade residual de três anos, sendo o resgate efectuado em dólares, bem como o pagamento dos juros de cupão a receber até à data de vencimento.
Apesar da desvalorização do Kwanza em 7% face ao dólar desde o início do ano, o governador do BNA, José de Lima Massano, garantiu que não motivos para pânico. Durante a última reunião do Comité de Política Monetária, o responsável pelo BNA referiu que a instituição que gere tem responsabilidades sobre a estabilidade de preços na economia, sublinhando que a taxa de câmbio é um factor muito importante para a formação de preços, mas também é responsável pela manutenção das reservas internacionais, que devem ser mantidas no patamar mínimo de seis meses de importações, em que se encontram actualmente.
Mencionou ainda que a inflação é um tema de grande preocupação para o BNA, “a quem incumbe a responsabilidade de preservar o valor da moeda e o seu poder de compra”, e cuja acção vai no sentido de influenciar a estabilidade de preços na economia. Massano recordou ainda que, qualquer alteração nas quantidades produzidas de petróleo e gás, que geram cerca de 95% dos recursos cambiais ou mesmo dos preços nos mercados, tem impacto no funcionamento da economia nacional.
“E nos primeiros quatro meses do ano, o que observámos foi uma queda das receitas de exportação”, referiu, indicando que esta se reflectiu na oferta de divisas que foram visíveis também na plataforma Bloomberg FXGO, disponível para as negociações em moeda estrangeira entre grandes exportadores e compradores. Acrescentou que, “sobretudo nos últimos dois meses, registámos uma queda de 40% nessa plataforma de recursos cambiais e passámos a assistir a um conjunto de situações, algumas já tínhamos superado, de operações pendentes”, salientou o governador.
Expansão , 30/05/2023