A Angola Cables, empresa maioritariamente de capitais públicos e especializada na aquisição e operação de cabos submarinos, continua fragilizada em termos financeiros e não tem, actualmente, capacidade para efectuar novos investimentos. Dívida ao BDA mantém-se quase inalterada.
Oportunidade de negócio levou a Unitel (que detém 31% da Angola Cables) a investir cerca de 50 milhões USD na ligação ao cabo submarino 2Africa, um dos maiores do mundo, que é gerido por um consórcio internacional que envolve dezenas de empresas, em vários países. Falta de capacidade financeira levou a Angola Cables, empresa especializada neste segmento e detida maioritariamente por capitais públicos, a ficar de fora do investimento que aumenta as ligações entre Angola e outras regiões do mundo.
O cabo submarino 2Africa é liderado pela Meta (empresa responsável pelo Facebook e Whatsapp) e chegou a Luanda no final de Julho. O ponto de amarração está situado em Cacuaco e abre novas perspectivas para a contratação de tráfego internacional de telecomunicações à operadora Unitel, que realizou o investimento e passa dessa forma a ser concorrente da Angola Cables.
“Penso que aconteceu algo muito simples: os promotores aproximaram-se do Governo, fizeram uma proposta e quem decide estas coisas considerou que é uma boa oportunidade. Como a Angola Cables não tem capacidade financeira, foi a Unitel, que tem essa capacidade, a assumir o investimento”, explica a fonte do sector ao Expansão.
Para além do tráfego interno, a maior operadora de telecomunicações do País também pretende captar novos negócios com as ligações de fibra óptica que conectam Angola com a Zâmbia e o Botswana, países que não têm acesso ao mar e, por essa razão, aos cabos submarinos de forma directa.
Com 45.000 Km de extensão, o 2Africa é o maior cabo do mundo e irá conectar 33 países, com 46 pontos de amarração em toda a África, Europa e Ásia. A Alcatel Submarine Networks (ASN) é responsável pela fabricação e implantação do cabo de 16 pares de fibras ópticas e capacidade de 180Terabip/segundo, com previsão de conclusão em 2024.
Reserva nas contas do BDA
Como o Expansão noticiou em Junho de 2022, a Angola Cables acumulava, no final do exercício de 2021, uma dívida ao Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) superior a 128 mil milhões Kz, o equivalente a 300 milhões USD ao câmbio da época. Esta realidade, associada aos prejuízos acumulados durante os últimos exercícios financeiros, coloca a Angola Cables em situação de falência técnica e a necessitar de um aumento de capital, como atestava a auditoria independente às contas do BDA.
De lá para cá, durante o exercício financeiro de 2022, a situação não conheceu mudanças significativas. De acordo com o relatório e contas do BDA relativo ao ano passado, publicado parcialmente no dia 19 de Maio, no Jornal de Angola, o auditor independente mantém a reserva assinalada no exercício de 2021.
Como se lê no ponto 6 do capítulo “Base para opinião com reservas”, o “activo do BDA inclui créditos concedidos à Angola Cables” de mais de 135 mil milhões Kz e uma imparidade de mais de 13 mil milhões Kz, “dos quais estão vencidos” cerca de 60 mil milhões Kz, “montantes que incluem capital e juros, tendo ocorrido diversas reestruturações deste crédito, que envolveram a redução da taxa de juro e um aumento do prazo de reembolso”.
Mais à frente, o auditor recorda que as demonstrações financeiras da Angola Cables têm evidenciado “resultados negativos e capital próprio negativo”. “Estas circunstâncias, bem como a dimensão do crédito, envolvem um risco significativo quanto à capacidade e momento em que o reembolso venha a ocorrer”, sublinha o auditor independente. O BDA financiou a Angola Cables com 260 milhões USD, tendo sido concedida uma garantia do Estado que cobre a totalidade do crédito.
Expansão , 14/08/2023