A administração Trump reafirmou o seu apoio ao ambicioso projeto do corredor ferroviário Angola-Zâmbia-RDC.
A decisão dos Estados Unidos de continuar a apoiar a linha férrea — conhecida como Corredor do Lobito — sinaliza um compromisso renovado com o desenvolvimento de infraestruturas estratégicas no continente africano, mesmo com a escalada das tensões tarifárias a nível global.
A confirmação veio de um alto diplomata dos EUA, indicando a decisão do presidente Trump de continuar com o projeto inicialmente lançado sob seu antecessor, Joe Biden.
A iniciativa ferroviária, que tem enfrentado escrutínio político e obstáculos logísticos, está agora a ser reposicionada como um pilar fundamental do engajamento económico entre os EUA e África.
Lançado originalmente como uma das principais apostas da administração Biden no continente, o projeto de 4 mil milhões de dólares parece também ter o apoio da equipa de Trump, especialmente pelos recursos minerais estratégicos envolvidos.
Segundo a BBC, o encarregado de negócios e embaixador interino dos EUA em Angola, James Story, disse a jornalistas que os Estados Unidos estão “prontos para mostrar nosso compromisso com esses projetos”.
Ele acrescentou que Washington continuará “a trabalhar com os nossos parceiros para concretizar o projeto”, sinalizando a intenção da administração em manter o curso, apesar das incertezas geopolíticas mais amplas.
O projeto do Corredor do Lobito
O Corredor do Lobito é uma das iniciativas ferroviárias mais ambiciosas de África, sendo visto como um esforço essencial para contrabalançar a crescente influência da China na região.
Abrangendo três países africanos — Angola, Zâmbia e República Democrática do Congo (RDC) —, o corredor é considerado uma peça crucial na estratégia de integração regional do continente.
A rota ferroviária proporcionará uma ligação comercial direta entre as regiões ricas em minerais da África Central e a costa atlântica, facilitando o transporte de metais vitais como cobre e cobalto, essenciais para indústrias como a de veículos elétricos e centros de dados de inteligência artificial.
O projeto envolve a construção de uma linha férrea de 800 quilómetros que ligará o Caminho de Ferro de Benguela, em Angola, à linha férrea de Chingola, na Zâmbia.
Essa conexão permitirá uma circulação mais eficiente de mercadorias e promoverá o investimento em setores como agricultura, mineração e energia.
A primeira fase do projeto inclui a reabilitação de uma linha férrea existente de 1.300 km em Angola, com extensão até à região mineira chave da RDC, permitindo o escoamento de cobre e cobalto até à costa atlântica.
Uma segunda fase, ainda em estudo, prevê a extensão da linha até à Zâmbia, o segundo maior produtor de cobre do continente.
O projeto já recebeu apoio significativo de entidades internacionais, incluindo o governo dos EUA, a União Europeia, o Banco Africano de Desenvolvimento e a Corporação Financeira Africana (AFC), com compromissos de financiamento que ultrapassam 1 mil milhão de dólares.
A Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos EUA (DFC) comprometeu-se com um empréstimo direto de 553 milhões de dólares para a modernização e operação da linha ferroviária.
Esse renovado interesse dos EUA no projeto surge no contexto da implementação das novas tarifas comerciais de Trump, chamadas “Liberation Day”, que estão a redefinir a dinâmica do comércio global.
Essas tarifas já tiveram um impacto considerável em vários países africanos, incluindo os três anfitriões do projeto do Corredor do Lobito — Angola, Zâmbia e RDC.
O apoio contínuo do governo norte-americano ao projeto ferroviário demonstra a importância geopolítica das rotas comerciais africanas, à medida que os países procuram alternativas às cadeias de abastecimento globais tradicionais.
Africa Business Insider, 04/08/2025