Só 2 em cada 100 angolanos tencionam comprar carro

Confiança dos angolanos continua em baixa arrastada pela situação económica e pelo desemprego

Imagem: DR

Com a perda do poder de compra, esmagadora maioria dos angolanos não tem possibilidade de adquirir bens valiosos, como casa e carro, nos próximos dois anos. E teme pela alta de preços no decurso de 2025.

Há mais de cinco anos que a confiança dos consumidores angolanos é negativa, uma situação agravada pelo desemprego e pelo desgaste das condições económicas do país. Consequentemente, mais de 70% das famílias estão sem planos para a aquisição de bens valiosos, como por exemplo, casa própria ou mesmo um transporte (carro), já como, como justificam, no actual contexto não é possível criar poupança.

No último trimestre de 2024, o Indicador de Confiança dos Consumidores (ICC) registou um aumento na degradação ao adicionar 9,3 pontos face ao mesmo período do ano anterior, fechando o exercício em -19,7 pontos. Comparativamente ao terceiro trimestre de 2024, a redução é mais ligeira (0,1 pontos).

Durante os quatro trimestres de 2024 a tendência de agravamento da confiança dos consumidores manteve-se, afundando mais 5,6 pontos até ao encerramento do exercício. Esteve muito distante do um dígito que alcançou no primeiro trimestre de 2022 (-8,4 pontos) depois de oito trimestres com níveis consideravelmente baixos.

Em termos parciais, nos últimos cinco anos, os trimestres com níveis mais baixos de confiança são o terceiro e o quarto trimestres de 2020 com -21,4 e -19,9 pontos, respectivamente. O quarto de 2024 é o terceiro com a pontuação mais baixa no que diz respeito à confiança, seguido pelo trimestre antecedente com -19,6 pontos.

A confiança dos consumidores angolanos continua afectada por duas questões fundamentais, nomeadamente a situação económica do país e o desemprego. Nos últimos 12 meses, a confiança teve pontuação negativa (-54,8 pontos), com sinal de desaceleração de 2,7 pontos em relação ao período homólogo. O desemprego também se situou em contínua pontuação negativa, desta vez agravando -76,2 pontos.

O conjunto das três mil famílias inquiridas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) antevê, para os próximos 12 meses, o agravamento da confiança, apesar da inflação apresentar desaceleração desde o início de 2025. Entretanto, há uma perspectiva de aumento dos preços de bens e serviços, face ao mais recente corte nas subvenções do gasóleo.

Por exemplo, quanto à aquisição ou construção de uma casa nos próximos dois anos, cerca de 11 em cada 100 inquiridos do INE afirmaram que pretendem comprar ou construir uma casa. E, no que concerne à aquisição de bens valiosos, apenas dois em cada 100 angolanos afirmaram que tencionam comprar um carro nos próximos dois anos. Tudo porque 78% dos inquiridos dizem que não é possível poupar dinheiro no actual contexto.

ANGOLA NO FUNDO DA TABELA

Angola é o décimo primeiro país onde a confiança dos consumidores atingiu a pontuação mais baixa no ano passado. É superada pela Grécia com -44,5 pontos, Estónia (-35,5), Suíça (-30), Hungria (-28,7), Israel (-27,66), Eslovénia (-27), Holanda (-26), Alemanha (-23,1), Albânia (-24,6) e Eslováquia (-20,8).

Contudo, nos quatro países africanos que têm o ICC disponibilizado, Angola apresenta-se como a que tem o nível de confiança muito baixo, seguido da África do Sul com -6 pontos. Já em Cabo Verde e nos Marrocos os consumidores têm confiança, com pontuação de 13 e 46,5, respectivamente.

Valor Económico, 23/04/2025