Ruanda anuncia que vai construir reator nuclear de pequena escala

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O Conselho de Energia Atómica do Ruanda anunciou que assinou um acordo com uma empresa canadiana e alemã para a construção do seu primeiro reactor nuclear de pequena escala, a fim de testar “uma nova abordagem de fissão nuclear”.

As autoridades ruandesas disseram na terça-feira que o reactor não produzirá qualquer electricidade para a rede do país. Em vez disso, irá explorar a tecnologia desenvolvida pela Dual Fluid Energy Inc. para responder à necessidade de fontes de energia mais limpas.

O Ruanda e a empresa poderão criar uma linha de produção desses reactores na nação centro-africana, à medida que o país explora a energia nuclear para satisfazer as crescentes necessidades energéticas e se adaptar às alterações climáticas, declararam as autoridades ruandesas.

A Dual Fluid Energy, fundada no Canadá em 2021, tem um dos mais de 20 projectos de pequenos reactores modulares em desenvolvimento – utilizando várias abordagens e combustíveis – que foram avaliados num relatório deste ano pela Agência de Energia Nuclear da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

De acordo com o relatório citado, é um dos projectos que se encontra nas fases iniciais de desenvolvimento, incluindo o licenciamento e a obtenção de um fornecimento comercial de combustível qualificado.

Segundo a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), os pequenos reactores modulares diferem, em geral, dos reactores convencionais de maiores dimensões por necessitarem de menos combustível, serem mais seguros, oferecerem maior flexibilidade de localização e poderem ser pré-fabricados e expedidos.

Mais de 70 projectos de reactores comerciais estão a ser desenvolvidos em todo o mundo, declarou a AIEA.

A Dual Fluid Energy procura uma fissão nuclear baseada em “combustível líquido e refrigerante de chumbo” que, segundo a empresa, poderia produzir electricidade sem emissões, hidrogénio e combustíveis sintéticos “a custos inferiores aos dos combustíveis fósseis”. A empresa afirma que, com a sua abordagem, o combustível nuclear é utilizado “até cem vezes melhor” do que nos reactores tradicionais de água leve.

“Estamos agora convencidos de que encontrámos o parceiro ideal para a primeira concretização da nossa tecnologia inovadora”, afirmou o director executivo Götz Ruprecht numa declaração conjunta em que anunciou o acordo com o Ruanda.

Segundo os especialistas, há grandes desafios pela frente.

“A alegada temperatura de funcionamento de 1.000 graus Celsius não é facilmente atingível com um líquido de arrefecimento de chumbo sem utilizar ligas caras de alta temperatura, sem experiência real”, explicou o professor convidado do Dalton Nuclear Institute da Universidade de Manchester, Juan Matthews, à agência de notícias Associated Press.

“O projecto tem características interessantes, no entanto, tem um nível de preparação tecnológica muito baixo e exigiria muito trabalho para confirmar que o projecto é viável”, declarou o professor.

Prevê-se que o reactor esteja operacional em 2026, devendo os testes da tecnologia estar concluídos em 2028, afirmou o Governo ruandês, na declaração conjunta.

 

O Ruanda está a fornecer o local e as infraestruturas, enquanto os seus cientistas recebem formação sobre a tecnologia.

Esta parceria foi avaliada em 75 milhões de dólares (cerca de 70 milhões de euros).

O anúncio surge uma semana depois de a primeira Cimeira Africana sobre o Clima ter lançado um apelo unânime a uma mudança para uma maior utilização de energias limpas, juntamente com um imposto global sobre os combustíveis fósseis.

O ddirector executivo do Conselho de Energia Atómica do Ruanda, Fidel Ndahayo, disse que o acordo faz parte de uma estratégia de parcerias com empresas iniciantes que desenvolvem tecnologias de pequenos reactores nucleares modulares.

O Governo do Ruanda tem afirmado que as suas ambições nucleares são para fins pacíficos, para ajudar a impulsionar o desenvolvimento.

Lusa, 13/09/2023