‘Global Gateway’ da UE para África com três problemas

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O pacote de investimentos da UE para o desenvolvimento, o “Global Gateway”, que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, descreveu como o “futuro da cooperação para o desenvolvimento da UE”, parece focado em aumentar os investimentos do sector privado em energia, infra-estruturas e soluções inteligentes em termos climáticos em África.

Enquanto o Corno de África enfrenta a seca mais severa das últimas quatro décadas, as soluções locais continuam tão valiosas como sempre. O condado de Marsabit, no norte do Quénia, não vê chuva há dois anos, e para muitos habitantes locais não há muito mais a fazer para além de rezar, como explica o presidente do Comité da Comunidade de Tigo: “Ficamos parados. Continuamos a contar os dias para a próxima estação das chuvas e rezamos para que a chuva venha”.

Sem chuva significa sem água, sem água significa sem pasto para alimentar o gado, sem gado significa sem venda de leite para garantir dinheiro para alimentação, e sem comida há desnutrição e acordar e dormir com fome todos os dias.

A UE desenvolveu a sua resposta à insegurança alimentar global e intensificou a sua contribuição para a Iniciativa do Corno de África. Também propôs o uso de reservas em países de África, Caribe e Pacífico.

Mas, de acordo com Luisa Fondello e Lucy Esipila, da Cáritas Europa e Cáritas África, respectivamente, a partir das experiências das organizações locais no Corno da África, há três coisas fundamentalmente erradas com os esforços da UE.

“Primeiro, a assistência humanitária fornecida não é suficiente. Apesar da emergência sem precedentes na região, apenas 20% dos apelos do Corno de África obtiveram resposta. Em segundo lugar, é necessária muito mais atenção à realidade da agricultura em África e às soluções locais”, dizem, acrescentando que “o Global Gateway só pode ir longe se as promessas forem cumpridas. Só pode ir longe se aumentar o apoio político e o financiamento para abordagens agro-ecológicas a pequenos agricultores, impulsionando a produção doméstica de alimentos”.

“Em terceiro lugar, a UE precisa de chegar ao cerne da crise alimentar. O apelo de Von der Leyen para intensificar os esforços na produção de alimentos não parece reconhecer que a fome não é um problema de produção. 50% das pessoas afectadas pela fome são pequenos produtores agrícolas”.

A actual crise alimentar é uma crise de acesso. A fome é uma questão de justiça – que os pequenos agricultores exigem que seja tratada ao mais alto nível. O Global Gateway da UE deve oferecer esperança. Esperança para os pastores e pequenos produtores agrícolas, que fazem parte de soluções reais.

08/04/2022