Banco vai atuar sob marca de transição EuroBic Abanca até 2025, mas portugueses notarão mudanças já a partir deste fim de semana. Abanca mantém parte da equipa de gestão atual. Espanhóis reforçam poder na banca nacional, tendo o terceiro, o quinto e o sétimo maiores bancos portugueses
Ainvestidora angolana Isabel dos Santos já não é acionista de um banco em Portugal. A venda da sua participação acionista no EuroBic ao Abanca foi concretizada esta quinta-feira, 11 de junho, mais de quatro anos depois de a alienação ser o destino traçado pelo Banco de Portugal. O grupo espanhol Abanca é o comprador e vai mudar a marca da instituição já este fim de semana. O valor não foi divulgado.
Fora do país há anos, Isabel dos Santos não esteve presente na assinatura do contrato de transmissão de ações, que teve lugar esta quinta-feira em Lisboa. Na fotografia divulgada pelo Abanca, surgem apenas os responsáveis do grupo espanhol e o segundo maior acionista do EuroBic até aqui, Fernando Teles, sócio da filha do falecido presidente angolano José Eduardo dos Santos.
Esta é a concretização de mais uma saída de Isabel dos Santos do universo empresarial que foi criando em Portugal, agora com a venda deste banco que constituiu em 2008. A saída deu-se depois de ter sido afastada obrigatoriamente da Efacec com a nacionalização determinada pelo Governo de António Costa, na sequência do Luanda Leaks. Continua a ser ainda a segunda maior acionista da NOS, depois de a Sonae ter quebrado a parceria que as unia. Para trás ficou já a saída da posição no BPI, que ficou também para um grupo espanhol, o CaixaBank.
Por via da Santoro e da Finisantoro, Isabel dos Santos controlava 42,5% do EuroBic, mas tais posições acionistas estavam sujeitas ao arresto preventivo judicial devido aos processos em Portugal e em Angola. Foi preciso negociação inclusive judicial para ter a certeza de que as verbas pagas pelo EuroBic não pudessem contrariar a decisão de congelamento das ações, mas o desfecho não foi agora divulgado.
Preço por divulgar, menor compra maior
O que também não foi divulgado foi o preço da operação que faz com que o EuroBic mude de mãos. Esta é a décima aquisição na Península Ibérica protagonizada pelo Abanca, detido e liderado por Juan Carlos Escotet, sendo que já tinha adquirido a unidade de retalho do Deutsche Bank em Portugal em 2018, e também nessa altura o banco optou por não divulgar o que tinha pago.
Com esta operação, agora aprovada pelo Banco Central Europeu e pela Autoridade da Concorrência, o Abanca paga por um banco que, em Portugal, é bem maior, muito dele herdeiro da rede do antigo BPN. O banco resultante fica com 251 balcões, quando o Abanca tinha apenas 30% desse número até aqui. O novo banco tem um volume de negócios quase 3 vezes superior ao existente até aqui (créditos e depósitos juntos superam os 20 mil milhões de euros) e multiplica por quatro a base de clientes
A união dos dois bancos faz com que a entidade resultante fique em todos os distritos e nas regiões autónomas, o que não acontecia individualmente até aqui. Torna-se o sétimo maior banco em Portugal, alega o Abanca, superando, portanto, o Crédito Agrícola.
Banco terá marca transitória
Com o novo acionista, haverá uma nova marca transitória: EuroBic Abanca. Esta desaparecerá em 2025, quando se concluir o “processo de integração tecnológica e operacional do negócio”.
Por agora, haverá mudanças de imagem que terá impacto direto nos clientes: “Durante este fim de semana e, de forma gradual, até à conclusão do processo serão realizados trabalhos de implementação da nova imagem exterior e de remoção dos anteriores elementos de marca nas agências, serviços centrais e caixas ATM. Este logótipo de transição será também apresentado nos diferentes canais digitais (web, banca eletrónica e mobile), bem como nos cartões de crédito e débito”, segundo o comunicado enviado pelo Abanca às redações.
Sendo dono de um novo banco em Portugal, o Abanca espera ganhar mais espaço na banca de empresas (“especialmente nos segmentos de negócios e agrícola”), querendo crescer igualmente nos negócios e soluções de pagamento. “A aquisição do EuroBic tem um claro sentido estratégico para o Abanca, devido ao dinamismo do mercado português, a sua interrelação económica com a Galiza e com Espanha, e as sinergias que proporciona ao nosso projeto”, é o que explica Juan Carlos Escotet, citado no comunicado.
Esta venda era central para o EuroBic poder financiar-se nos mercados e colocar títulos de dívida que possam ser absorvidos em caso de dificuldades, como mandam as regras europeias. A situação de incerteza, em parte também pelas “deficiências” que foram detetadas na forma de controlo do risco de branqueamento de capitais, não impediu que o EuroBic apresentasse, em 2023, o maior lucro de sempre: 103 milhões de euros, acima dos 43 milhões obtidos em 2022. E a equipa que liderava até agora recebe uma palavra de confiança do novo acionista.
Abanca aproveita parte da gestão
O Abanca em Portugal estava, até agora, como uma subsidiária sem autonomia do grupo espanhol, mas o EuroBic é um banco autónomo e é esta última a estrutura agora aproveitada. Por isso, haverá um Conselho de Administração que irá replicar parte da equipa do espanhol Abanca e da estrutura de poder do EuroBic.
José Azevedo Pereira, antigo diretor-geral do Fisco que preside ao EuroBic desde a saída de Fernando Teixeira dos Santos, vai continuar na nova administração, que será composta “maioritariamente” por portugueses, incluindo seus colegas de gestão até aqui. Juan Carlos Escotet será o presidente, Francisco Botas, que é o presidente executivo, também estará na equipa. O Abanca Portugal, a unidade que já existe até aqui, vai continuar a atuar com Pedro Pimenta como responsável nacional.
Esta é a concretização de uma aquisição em cima da mesa desde o início de 2020, dinamizada pela vontade do supervisor português de afastar Isabel dos Santos do sector, mas que falhou logo nesse ano. As conversas voltaram depois, com acompanhamento da supervisão, mas muito demorou, só agora se concretizando a maior operação de concentração no sector bancário dos últimos anos (as integrações do Popular e Banif no Santander foram as anteriores).
Santander (terceiro maior banco), BPI (quinto) e EuroBic Abanca (sétimo) passam a representar a força espanhola na banca nacional. A portuguesa Caixa Geral de Depósitos lidera o sistema, seguida do BCP (com a chinesa Fosun e a angolana Sonangol como principais acionistas). O Novo Banco, o quarto maior, está em mãos americanas, ainda que o Estado (diretamente e por via do Fundo de Resolução) tenha 25% do capital. De menor dimensão, o Banco Montepio e o Crédito Agrícola representam também a propriedade portuguesa.