Dinheiro está a sair através do branqueamento de capitais e sobrefacturação, pelo que tudo indica, segundo especialista, via sistema bancário visto que o kwanza não é transaccionável. Economista chefe do BAD alerta que é “muita riqueza” e recomenda melhoria na eficiência do OGE. Relatório do BAD indica que a riqueza per capita está a cair acentuadamente e pode comprometer o futuro das próximas gerações.
Cerca de 1,2 mil milhões de dólares saem, em média, todos os anos do país ilicitamente, enquanto as “despesas ineficientes” representam desperdícios orçamentais de cerca de 1,3 mil milhões de dólares anualmente.
Os números foram apresentados em Luanda pelo economista chefe do Banco de Desenvolvimento Africano (BAD), Joel Daniel Muzima, citando dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO).
“Cerca de 1,2 mil milhões de dólares têm saído como fluxo ilícito de capital financeiro da nossa economia, em média, por ano. É muita riqueza”, detalha o economista chefe do BAD, lançando os olhos, ao mesmo tempo, para outros desvios significativos. “Em média, cerca de 1,3 mil milhões de dólares têm sido gastos de uma forma não muito eficiente”, disse Joel Daniel Muzima durante a apresentação do
Relatório de Foco de 2025, publicado pelo BAD, na última sexta-feira, 27, na Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto (UAN).
O director do Centro de Investigação Social e Económica da UAN, Fernandes Wanda, manifestou-se, por sua vez, “preocupado” pela revelação de que os canais oficiais estão a ser utilizados para a saída de recursos ilícitos.
“O kwanza não é uma moeda transaccionável para haver estes fluxos, isto acontece nos circuitos financeiros formais, no caso o bancário”, aponta, defendendo a necessidade de “melhorar o controlo”, trabalho da Unidade de Informação Financeira. “Se somarmos 1,3 mil milhões e 1,2 mil milhões de dólares, temos dinheiro para financiar a nossa economia como desejado”, contabiliza.
RIQUEZA ESTÁ A DIMINUIR E FUTURAS GERAÇÕES EM RISCO
O relatório intitulado “Fazer com que o capital natural de Angola funcione melhor para o seu desenvolvimento” expõe a “forma abrupta” como os recursos naturais estão a ser explorados, principalmente os florestais, marinhos e os animais selvagens.
Desde 1995, a riqueza natural per capita de Angola caiu 43%, decaindo dos 8.694 dólares para os 4.954 dólares. O relatório sublinha que a queda reflete “uma utilização insustentável, em particular das florestas, dos mangais, das pescas e dos recursos agrícolas, agravada pelo rápido crescimento demográfico”, situação que coloca as próximas gerações em risco podendo os recursos naturais, fundamentalmente escassos, acabarem.
Ainda assim, o país conta, segundo dados do BAD, em média, com uma riqueza natural estimada em 361 mil milhões de dólares, saindo dos 200.237 mil milhões de 1995.
O economista chefe do banco advoga a transformação e a aplicação dos recursos explorados localmente com intuito de se criarem cadeias de valor, finalmente, riqueza para as populações.
“É preciso desenvolver cadeias de valores, não basta continuarmos a exportar a nossa produção em bruto, é preciso criar valor a nível interno. Para isso, é preciso termos indústrias, para termos indústrias é preciso termos energia e infraestruturas que façam chegar energia às fábricas. É um processo que deve ser desenvolvido e precisa de recursos, daí que Angola pode alavancar recursos não só com BAD, Banco Mundial ou FMI, mas também com financiamentos inovadores, como garantias parciais de crédito ou de risco, emissão de títulos de sustentabilidade (verdes), títulos sociais que permitem financiar projetos na educação, saúde”, sugere.
O documento mostra, igualmente, que o capital fiscal de Angola ainda está abaixo da média regional, medido em termos de receita sobre o PIB. O país conta com 18%, quando a média regional é de 20%. Um dos “culpados” apontados é a informalidade da economia.
Valor Económico, 07/02/2025