A economia angolana enfrenta desafios crescentes com a desvalorização do kwanza, altas taxas de inflação e desemprego, aprofundando a crise social no país. Especialistas apontam que as intervenções do Banco Nacional de Angola (BNA) e do Ministério das Finanças têm sido insuficientes para conter a pressão sobre a moeda nacional, exacerbando as dificuldades econômicas da população.
Inflação e Desemprego em Alta
Dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que a taxa de desemprego permanece acima de 32%, o maior índice dos últimos três anos, enquanto a inflação atinge 30% em nível nacional e 40% em Luanda. O aumento contínuo dos preços, especialmente de produtos alimentares e bens essenciais, eleva o custo de vida para níveis críticos, agravando a insegurança alimentar entre as famílias de baixa renda.
A desvalorização do kwanza é um dos principais fatores por trás da escalada da inflação, que é impulsionada pela dependência de importações e pelo aumento das tarifas aduaneiras. O ajuste recente dos preços de serviços de comunicação em 25%, autorizado pelo INACOM, e o fim dos subsídios aos combustíveis têm pressionado ainda mais o orçamento das famílias.
Medidas Insuficientes do BNA
O BNA realizou intervenções no mercado cambial, vendendo cerca de USD 2,5 bilhões em 2024, mas as ações têm sido pontuais e insuficientes para atender às necessidades estimadas de USD 1,7 bilhão em divisas. Apesar de uma ligeira valorização temporária do kwanza, a moeda depreciou-se 6% em relação ao dólar e 9% frente ao euro no terceiro trimestre de 2024.
O aumento da dívida pública em moeda estrangeira também é motivo de preocupação. O valor total da dívida caiu para USD 47,9 bilhões no terceiro trimestre, o menor nível em cinco anos, mas os pagamentos retomados à China e novos compromissos com os EUA pressionam ainda mais as reservas cambiais.
Impactos Sociais e Políticos
A crise social continua a agravar-se, com um milhão de jovens entrando anualmente no mercado de trabalho sem perspectivas de emprego suficiente devido à estagnação da economia e à falta de investimentos em setores como a agricultura. O governo enfrenta crescente impopularidade, especialmente em regiões mais vulneráveis e subúrbios de Luanda, onde as condições de vida se deterioram rapidamente.
Embora o BNA preveja um abrandamento da inflação para 2025, a projeção é vista com ceticismo devido à volatilidade dos preços do petróleo e à persistente fragilidade da moeda nacional. A atual estratégia econômica, focada em estímulos à atividade produtiva em detrimento do controle inflacionário, é amplamente criticada por especialistas.
Aproximação com os EUA
Em meio à crise, o governo do presidente João Lourenço tem intensificado relações com os EUA, com novos projetos de infraestrutura financiados por credores norte-americanos, cujos empréstimos aumentaram 22% no último trimestre. No entanto, a dependência crescente de financiamentos externos é vista como um risco para a estabilidade financeira do país.
Cenário Futuro
O cenário para 2025 sugere algum alívio na inflação, mas os desequilíbrios econômicos estruturais permanecem. Sem mudanças significativas na política cambial e fiscal, a crise poderá se aprofundar, aumentando a pressão sobre o governo para implementar reformas mais abrangentes e eficazes.
22/11/2024