A par de Manuel Vicente e Isabel dos Santos, Silvio Franco Burity, antigo presidente do Conselho de Administração da Administração Geral Tributária e antigo diretor nacional das Alfandegas é outra alta figura pública angolana com ativos imobiliários valiosos em Londres.
Burity é o beneficiário de duas sociedades sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas, a Wyndham Mews Limited e a Rolling Heights Limited.
Estas empresas controlam uma moradia em Stratford-upon-Avon, vila a noroeste de Londres conhecida por ter sido onde o escritor William Shakespeare nasceu, em 1564, e uma vivenda de seis quartos na capital britânica, avaliada em quase três milhões de libras (3,4 milhões de euros).
Estas revelações são o resultado de uma análise da organização não-governamental (ONG) Transparência Internacional, que há sete anos tinha denunciado a forma pouco transparente como empresas ‘offshore’ localizadas em paraísos fiscais detêm propriedades no Reino Unido, levantando a suspeita de lavagem de dinheiro através do mercado imobiliário britânico.
Desde então, tem feito pressão junto do Governo britânico para que as pessoas reais por detrás destas “empresas fachada” estrangeiras sejam identificadas nos registos britânicos. Segundo a ONG, sociedades sediadas em “centros financeiros opacos” como as Ilhas Virgens Britânicas surgem frequentemente em casos de corrupção e lavagem de dinheiro.
O Registo de Entidades Estrangeiras foi instituído pela Lei de Crime Económico introduzida no ano passado, acelerada devido à guerra na Ucrânia, “para erradicar oligarcas e elites corruptas que tentam esconder dinheiro obtido indevidamente através de imobiliário britânico”.
O prazo para os verdadeiros beneficiários dos imóveis no Reino Unido serem identificados e registados era 31 de janeiro, mas milhares de empresas ainda não o fizeram.
O novo registo predial já serviu para colocar em evidência os bens patrimoniais detidos por “pessoas politicamente expostas” (PEP), que a Transparência Internacional argumenta que devem ser sujeitos a um escrutínio mais apertado.
O próximo passo, segundo Ben Cowdock, responsável por investigações na Transparência Internacional, deve ser a abertura de averiguações por parte das autoridades britânicas sobre algumas destas pessoas.
“Gostaríamos de ver investigações policiais começarem sobre qualquer pessoa que tenha sido acusada de corrupção [no estrangeiro] e movimentado grandes quantidades de dinheiro para o mercado imobiliário [britânico]”, disse à agência Lusa.
Cowdock sugere que as autoridades contactem proativamente a autoridades das jurisdições entre aquelas pessoas estão a ser investigadas. “A polícia britânica deveria começar a contactar as agências estrangeiras responsáveis pela aplicação da lei e começar a trabalhar em conjunto com elas para tentar averiguar se estes bens podem ser recuperados e as verbas devolvidas ao local de onde vieram”, vincou.
Observador , 27/02/2023