País será a qualquer momento oficializado na lista cinzenta do GAFI. Medida reflecte preocupações internacionais em torno das insuficiências no combate ao branqueamento de capitais.
Os receios confirmaram-se. Angola volta a integrar a lista cinzenta do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI). O anúncio oficial deverá ser feito ao final do dia de hoje, após o encerramento das sessões da Semana do GAFI, mas fontes internas confirmaram à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA o regresso de Angola nesta classificação.
A lista cinzenta do GAFI é composta por países que apresentam deficiências estratégicas no seu regime de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo. Estes países, embora cooperem com o GAFI para melhorar os seus sistemas, são sujeitos a maior vigilância por parte da comunidade financeira internacional. A inclusão de Angola nesta lista representa um sinal de alerta para bancos e instituições financeiras globais sobre o aumento dos riscos de operações financeiras com o país, podendo afectar o seu acesso a investimentos e financiamento internacional.
Durante a reunião plenária, os delegados, representando mais de 200 membros da Rede Global do GAFI e várias organizações observadoras de relevo, como o Fundo Monetário Internacional, as Nações Unidas, o Banco Mundial e a INTERPOL, discutiram várias questões críticas na luta contra os fluxos financeiros ilícitos. Estes fluxos são frequentemente usados para alimentar o crime organizado e o terrorismo, além de comprometer a segurança global e o crescimento económico sustentável.
Entre os temas mais debatidos está a promoção da inclusão financeira e a abordagem baseada no risco, prioridades centrais da presidência do México, liderada por Elisa de Anda Madrazo, do GAFI. Para Angola, isto significa que o país terá de desenvolver um entendimento mais robusto dos riscos de branqueamento de capitais a que está exposto e adoptar medidas mais eficazes para mitigar esses riscos. Nos últimos anos, Angola tem feito progressos em diversas áreas, mas os desafios persistentes, como a falta de uma aplicação eficaz da legislação e fragilidades nos mecanismos de supervisão, continuam a suscitar preocupações internacionais.
Além de Angola, a reunião plenária também abordou as medidas de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento ao terrorismo na Argentina e em Omã, bem como os progressos realizados por outras jurisdições que já foram identificadas pelo GAFI como apresentando riscos para o sistema financeiro global.
O impacto para Angola de estar na lista cinzenta pode ser significativo. Além do escrutínio internacional, o país pode enfrentar maiores dificuldades em atrair investidores estrangeiros, num momento em que o governo angolano tem procurado revitalizar a economia, diversificar as suas fontes de receita e reduzir a dependência do petróleo. O acesso ao financiamento internacional, em especial de organismos multilaterais e mercados financeiros globais, pode também ser condicionado, com exigências adicionais de devida diligência por parte de parceiros internacionais.
A inclusão na lista cinzenta impõe a Angola a necessidade de adotar rapidamente reformas para colmatar as falhas identificadas, sob pena de ver agravadas as suas dificuldades no cenário internacional. A cooperação com o GAFI e com outros parceiros internacionais será essencial para garantir que o país possa sair desta lista e restaurar a confiança no seu sistema financeiro.
Após o término das reuniões, o GAFI deverá publicar um resumo das decisões tomadas, e uma conferência de imprensa com a presidente do GAFI está marcada para as 16h30 (hora de Paris). Espera-se que Elisa de Anda Madrazo forneça mais detalhes sobre os motivos que levaram à inclusão de Angola na lista cinzenta e sobre os próximos passos que o país deve tomar para cumprir com os padrões internacionais estabelecidos.
Para o governo angolano, esta decisão chega num momento sensível, em que o país procura consolidar reformas no sector financeiro e atrair investimentos estrangeiros em várias áreas, incluindo infraestruturas e indústria. A saída da lista cinzenta dependerá de uma resposta eficaz e célere por parte das autoridades angolanas, que terão agora de trabalhar em conjunto com o GAFI para superar as deficiências e reforçar o seu regime de combate ao crime financeiro.
Forbes África Lusofona , 25/10/2024