Nos últimos anos, Angola e os Estados Unidos da América têm-se aproximado consideravelmente, resultado da visão estratégica do Presidente João Lourenço ao orientar o país para o Ocidente.
Essa reorientação foi impulsionada, em parte, pelos impactos negativos do financiamento chinês sobre a economia angolana. E, de certa forma, revelou-se profética, ao ter sido feita antes da exclusão da Rússia do sistema económico global, o que poupou Angola de uma exposição mais profunda ao país euroasiático.
Apesar dos esforços visíveis para atrair investimento norte-americano, os números demonstram que os resultados continuam limitados — especialmente fora do setor petrolífero. E dificilmente isso mudará, a menos que a estratégia adotada pelo governo angolano sofra uma transformação substancial.
Qual é o perfil do investimento norte-americano no exterior?
Fora do setor petrolífero, o capital norte-americano é tradicionalmente direcionado a áreas como infraestruturas, setor financeiro, indústria farmacêutica, tecnologia, turismo e agronegócio.
Mas onde está esse capital? Como ele se movimenta?
Diferente de algumas nações europeias ou asiáticas, a maior parte da riqueza dos investidores americanos está concentrada em gestoras de ativos (asset managements) e escritórios de gestão patrimonial (family offices), e não necessariamente em governos ou empresários individuais.
As asset managements são empresas especializadas em gerir carteiras de investimento com foco em desempenho agregado, e não em ativos isolados. Elas criam e administram fundos, definindo alocação, execução e tomada de decisão de forma altamente técnica.
As family offices, por sua vez, são estruturas privadas que gerem o patrimônio de uma ou mais famílias, com o objetivo de assegurar a preservação e o crescimento de sua riqueza ao longo das gerações.
Essas instituições são os principais vetores de investimento global dos Estados Unidos.
E Angola?
Neste contexto, torna-se evidente que Angola, neste momento, não oferece as condições necessárias para atrair esse tipo de capital fora do setor petrolífero. O investidor americano não irá apostar num terreno agrícola não explorado, nem em jazidas minerais sem estudos geológicos sérios e em andamento.
O capital norte-americano, via de regra, busca negócios já estabelecidos, com histórico comprovado, gestão profissional e potencial de crescimento. O objetivo não é financiar ideias, mas escalar empresas já operacionais, aumentando sua rentabilidade e competitividade.
Portanto, se Angola pretende tornar-se um destino atrativo para investimentos dos Estados Unidos, é preciso começar por fortalecer as empresas nacionais. Isso significa financiá-las adequadamente, profissionalizar sua gestão e garantir sua inserção no mercado regional africano. Empresas sólidas e com bom desempenho são, em si, o melhor atrativo para asset managements e family offices.
Além disso, é fundamental modernizar e sofisticar o mercado de capitais angolano, que ainda se encontra em fase embrionária. Sem um ecossistema financeiro robusto, dificilmente o capital institucional norte-americano encontrará ambiente propício para operar.
Por Alfredo Venâncio
*Editor de Economia
30/05/2025