O fim do neoliberalismo – Opinião

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A sucessão de crises financeiras, coroada pelo crash das bolsas em 2008, marcou o fim dos 30 Anos Neoliberais do Capitalismo. Um período da história caracterizado por baixo crescimento, alta instabilidade financeira e concentração da renda nos 2% mais ricos da população.

Entre os muitos sintomas do fim da hegemonia neoliberal, estão o desprestígio das finanças, as perdas sofridas pelos grandes bancos que tiveram que ser socorridos durante a crise, o esvaziamento do ciclo de negociações multilaterais de Doha, visando aumentar liberalização comercial, o aumento do protecionismo em todo o mundo (apenas na Europa foram contabilizadas 424 medidas protecionistas desde 2008), e a profunda desilusão das classes dirigentes em relação à teoria econômica e as políticas ortodoxas.

Clóvis Rossi, escrevendo sobre o Fórum Mundial de Davos, traduziu bem o clima reinante naquela arena, afirmou o seguinte “o Fórum parece ter se cansado de ficar ouvindo os de sempre” e está em busca de novas ideias. A saída, pensam seus dirigentes, talvez esteja no Inet (sigla em inglês para Instituto para um Novo Pensamento Econômico criado por George Soros, que além de investidor é um brilhante economista heterodoxo. Para o The Guardian, finalmente, e conforme relatado por Clóvis Rossi, “O modelo econômico estimulado pelo povo de Davos explodiu; qualquer conserto ou reformas duradouras terá que vir de lugares e perspectivas muito diferentes”.

“A crise financeira global de 2008 e a crise da dívida soberana de alguns países europeus.

Um novo capitalismo?”, vejamos, como acontecera em 1929, o liberalismo econômico fracassara mais uma vez. Embora não seja esta a história convencional, a história do capitalismo é a alternância de períodos de desenvolvimento e períodos dominados pelo liberalismo econômico ou neoliberalismo. Depois da Segunda Guerra Mundial, havíamos tido os 30 Anos Dourados do Capitalismo, um período de desenvolvimento que seguiu um período liberal; hoje, vivemos ainda a crise e um período de transição.

Não devemos confundir conservadorismo com neoliberalismo. O conservadorismo, ao qual se opõe o progressismo, sempre existiu e sempre existirá. É a ideologia que defende a preservação da ordem sobre a justiça, enquanto os progressistas ou os de esquerda, estão dispostos a arriscar a ordem em nome da justiça social. A dialética entre essas duas visões de mundo é necessária e estará sempre presente.

Já desenvolvimentismo e neoliberalismo são duas formas de organização econômica do capitalismo.
O capitalismo começou desenvolvimentista, no quadro dos monarcas absolutos e do mercantilismo. Foi então que a Inglaterra realizou a Revolução Industrial e mudou o mundo. No século XVIII, com a hegemonia naquele país do liberalismo político, houve uma grande conquista da humanidade, a afirmação dos direitos civis. Em meados do século XIX, o liberalismo econômico tornou-se dominante, e, equivocadamente, os economistas clássicos acreditaram que esse fora também um grande avanço.

Mas o primeiro período neoliberal, caracterizado por baixo crescimento e alta instabilidade financeira, durou apenas até o crash de 1929 e a Grande Depressão. Tivemos em seguida os 30 Anos Dourados, um período desenvolvimentista de grande estabilidade, prosperidade e diminuição das desigualdades mundo ocidental, que, no entanto, terminou com uma pequena crise nos anos 1970, dando lugar, entre 1979 e 2008, para um novo e radical segundo período neoliberal, no qual se procurou reverter as conquistas sociais até então alcançadas.

O neoliberalismo logrou aumentar as desigualdades, mas não conseguiu destruir o Estado do Bem-Estar Social construído no segundo período desenvolvimentista no mundo ocidental.

E desde 2008 é uma ideologia vazia, que perdeu legitimidade perante a sociedade civil, e mesmo dentro da coligação de classes que o sustentava. Uma coligação de capitalistas selvagens, investidores, e dirigentes de empresas multinacionais.

O fim do neoliberalismo não significa que viveremos em breve um novo período desenvolvimentista, que agora, além de social, como foi o segundo, será ambiental. Mas aprendemos a criticá-lo. Para que os países ricos, que foram os que mais acreditaram no neoliberalismo, voltem ao desenvolvimento dependente.

Isaac Cangundo, 03/06/2025