Importadores privilegiados em detrimento dos produtores, denuncia líder da pecuária no Sul

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O presidente da Cooperativa dos Criadores de Gado do Sul de Angola, Carlos Damião, denunciou que os importadores de carne e derivados são amplamente privilegiados pelo Estado, enquanto os produtores locais enfrentam custos elevados, falta de crédito e ausência de apoios estruturais.

Em entrevista ao jornal Valor Económico, o dirigente afirmou que esta desigualdade “desincentiva a produção nacional” e perpetua a dependência das importações.

Segundo Damião, os criadores nacionais lutam com dificuldades acrescidas para produzir em condições de competitividade, ao passo que os importadores “têm apoios estatais, energia, água em abundância e facilidades de acesso ao mercado”. Para o líder da cooperativa, “parece que há mais vontade de se continuar com a importação do que em apoiar os produtores nacionais”.

“Os importadores têm uma estrutura diferente: têm contabilistas, advogados, doutores e mais alguma coisa. Com esses não há problema nenhum. Já nós, produtores, não temos esses apoios e enfrentamos enormes constrangimentos”, disse.

Custos altos tornam importação mais vantajosa

Damião explicou que os altos custos de produção interna colocam os criadores em clara desvantagem. “Se vendermos mais caro, sai mais barato importar. E, portanto, as pessoas compram importado. Há aqui um grande desequilíbrio contrário a nós”, alertou. Segundo ele, este cenário cria uma barreira permanente ao crescimento do setor pecuário nacional.

Crédito escasso e banca reticente

Além disso, o acesso ao crédito continua limitado. O dirigente acusou a banca de não estar disposta a apoiar a pecuária. “Os bancos estão sempre com muito receio, muitos problemas. É um setor que não está a ser tratado com a dignidade que merece”, disse, lembrando que a ausência de seguros agrícolas reforça ainda mais o bloqueio ao financiamento.

Programas oficiais não aliviam a desigualdade

Apesar de reconhecer programas do Governo, como o Planapecuária e o Planagrão, Damião considera que a execução está aquém das necessidades e que o desequilíbrio entre quem produz e quem importa continua intocado. “As promessas são muitas, mas até agora a situação está mais ou menos como estava”, sublinhou.

Dependência externa em vez de incentivo à produção

Para o líder da cooperativa, a atual política acaba por comprometer a autossuficiência alimentar de Angola. “Um país que quer ser competitivo internamente deve chamar os seus reais produtores, conhecê-los e dar-lhes o devido apoio. Caso contrário, continuaremos a importar carne e a enfraquecer os criadores nacionais”, concluiu.

24/09/2025